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Núcleo de Pesquisa e Extensão em Gerenciamento de Recursos Hídricos
Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo - Comitê Pardo

Boletim Informativo N.º 11/ Ano V - Novembro/2002
 
Paleontologia e Meio Ambiente
                                                                                                      Por Andrea Wallau Souto Ribeiro

Uma crian?a da Bacia Pardo conhece v?rias esp?cies de dinossauros, sabe a diferen?a entre herb?voros e carn?voros, localiza o Per?odo Jur?ssico (? 200 a 145 milh?es de anos) no tempo geol?gico. E, embora morando ou passeando sobre rochas contendo f?sseis de animais mais antigos do que aqueles que ela conhece (e com os quais brinca), nunca ouviu falar no Per?odo Tri?ssico (? 245 a 200 milh?es de anos) nem mesmo nos animais que viveram neste per?odo no Rio Grande do Sul.

Esse artigo visa chamar ? aten??o a falta de conhecimento e potencialidades que temos da regi?o em que vivemos - no momento da implanta??o da primeira Unidade de Conserva??o do Vale do Rio Pardo, o Parque Paleontol?gico, em Candel?ria.

A Paleontologia ? a ?rea da ci?ncia que estuda os f?sseis. F?sseis s?o formas de vida antigas cuja mat?ria org?nica, ao inv?s de se decompor, sofreu mudan?as ou foi substitu?da por minerais ao longo do tempo, chegando at? os nossos dias. Normalmente s?o profissionais das ?reas de Biologia e Geologia que especializam-se no estudo dos f?sseis porque eles s?o encontrados em determinados tipos de rocha (objeto de estudo dos ge?logos), preservando as caracter?sticas do animal ou planta (objeto da Biologia).

No ?mbito da Paleontologia, uma das ?reas que mais tem-se desenvolvido ? a Paleoecologia - o estudo do contexto, das condi??es do meio ambiente no momento em que o organismo, hoje fossilizado, estava vivo. Para isso, estuda-se o f?ssil e a rocha onde ? encontrado, para se inferir o modo de vida e intera??o do organismo com o seu meio f?sico e demais formas de vida contempor?neas.

O Rio Grande de Sul ? extremamente rico em dep?sitos fossil?feros, tanto do ponto de vista quantitativo, quanto na contribui??o que o Estado est? dando para a compreens?o da evolu??o animal, vegetal e do ambiente f?sico em determinados per?odos da hist?ria da Terra. A Unidade Geomorfol?gica denominada de Depress?o Perif?rica ? uma regi?o mais baixa que o norte e o centro-sul, na forma de uma faixa de sentido leste-oeste, onde afloram (ficam expostas) rochas de cerca de 290 a 160 milh?es de anos atr?s. Nessa ?poca, a America do Sul, ?frica, Ant?rtica, Austr?lia formavam um supercontinente - o Gondwana. O relevo n?o era acidentado e o clima era mais seco que o atual - a umidade dos oceanos n?o chegava ao interior.

Uma fauna diversificada vagava sem barreiras pelo imenso continente, tanto que f?sseis e rochas similares s?o encontrados nos continentes hoje separados. Ali?s, essa foi uma das primeiras evid?ncias e que jamais foi refutada da hip?tese de que a conforma??o atual dos continentes n?o era a mesma no passado geol?gico, hip?tese esta que surgiu no in?cio do s?culo XX e somente amplamente aceita no meio cient?fico, a partir das d?cadas de 60 e 70, quando dados de outros campos da Geologia foram reunidos na Teoria da Deriva Continental.

As localidades onde s?o encontrados f?sseis de vertebrados no Rio Grande do Sul situam-se principalmente entre os munic?pios de Mata e Candel?ria, passando por Santa Maria. Os mais representativos s?o: dicinodontes, cinodontes, rincossauro e dinossauros.

Dicinodontes - Comuns durante o Permiano (? 290 a 245 milh?es de anos) e o Tri?ssico. Eram herb?voros, apresentando dois dentes caninos (da? sua denomina??o), possuindo um corpo robusto, podendo ser do tamanho de um rato ou de um hipop?tamo atual. As rochas em que s?o encontrados, no Rio Grande do Sul, s?o chamadas de Forma??o Rio do Rasto.

Cinodontes - Surgiram no final do Permiano. Dentro deste grupo surgiram algumas caracter?sticas que hoje est?o presentes nos mam?feros. Apresentavam tamanho variado, desde cerca de 50 cm, at? m?dias, como de um lobo, por exemplo. S?o encontradas em rochas denominadas Forma??o Santa Maria no Rio Grande do Sul.

Rincossauros - Apresentam um cr?nio robusto, de formato triangular, terminando em forma de "bico"- da? o nome, lagarto (saurus) com bico (rhynchos), embora esse grupo n?o seja relacionado com o grupo de lagartos atuais. S?o considerados f?sseis-guia do Tri?ssico, ou seja, possuem uma ampla distribui??o geogr?fica, em um intervalo de tempo relativamente restrito, permitindo relacionar camadas rochosas fossil?feras de regi?es que hoje encontram-se separadas, inclusive em diferentes continentes. No Rio Grande do Sul s?o encontrados nas rochas denominadas Forma??o Santa Maria.

Dinossauros - ("lagartos que metem medo") Surgiram durante o Tri?ssico, os mais antigos eram de pequeno porte, carn?voros ou herb?voros. Apenas durante o Jur?ssico dominaram a Terra, extinguindo-se h? 65 milh?es de anos atr?s. Trata-se de um grupo distinto dos repteis atuais. Tamb?m encontrados nas rochas conhecidas no Rio Grande do Sul como Forma??o Santa Maria.

O Rio Grande do Sul n?o apresenta apenas f?sseis de vertebrados. Na regi?o dos munic?pios de Mata e S?o Pedro do Sul encontra-se uma verdadeira floresta petrificada, onde as c?lulas foram substitu?das por subst?ncias minerais de tal forma que reproduzem as fei??es originais, como os an?is de crescimento. O carv?o minerado no estado nada mais ? que antigas florestas, que foram soterradas, transformando a mat?ria org?nica. Tamb?m ocorrem no Rio Grande do Sul vertebrados e microf?sseis em rochas que representam os momentos em que o territ?rio esteve coberto por mar. Representantes da flora extinta tamb?m s?o encontrados na forma de impress?es em rochas e p?lens. Aqui apenas foi dada ?nfase ? maior riqueza fossil?fera da regi?o central do estado.

Hoje ? muito natural falarmos da intera??o entre o meio f?sico e a diversidade biol?gica, mas para a compreens?o da evolu??o da vida e a distribui??o de suas formas no tempo e no espa?o, o estudo dessas rela??es, atrav?s da Paleontologia e Paleoecologia ? imprescind?vel. Inclusive grande parte da hist?ria da forma??o da Terra ? a hist?ria da intera??o do meio com as diversas formas de vida.

Sabendo que sob os nossos p?s encontram-se f?sseis da ?poca em que os mam?feros separavam-se dos rept?is, portanto de grande import?ncia para o estudo da evolu??o, e dos mais antigos representantes dos dinossauros (eles teriam surgido da Am?rica do Sul e espalhado-se para o resto do mundo) temos a obriga??o de valorizar e preservar o que ? um patrim?nio mundial. Devemos desenvolver na pr?pria regi?o esse conhecimento, usufruir e disponibiliz?-lo para o resto do mundo.

Voltando ao in?cio do texto, nossas crian?as poderiam brincar com bonequinhos de dicinodontes, cinodontes, rincossauros e dinossauros que viveram no Tri?ssico no Rio Grande do Sul, ler livrinhos sobre seu h?bitat e assistir document?rios ou anima??o sobre sua ?poca, al?m de apaixonarem-se por outros bichos, de outras idades, de outros lugares.

* Ge?loga do Departamento de Meio Ambiente de Santa Cruz do Sul

 

 

Referenciais Bibliográficos:

.:. Kellner, A. W. A., Schwanke C. e Campos, D. A. O Brasil no tempo dos dinossauros. Rio de Janeiro: Museu Nacional, 1999.

 
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Texto: Andr?a Ribeiro
Revisão: Frederico Bonnenberger e Valéria Borges Vaz
 
 
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